O elevadíssimo número de partidos existentes na política brasileira não encontra, de forma alguma, razão de ser. O caráter ideológico do PT não difere muito das idéias defendidas por outras tantas siglas de esquerda. Assim como o DEM, outrora PFL, possui opiniões concêntricas à de agremiações direitistas diversas. Já o PSDB, por sua vez, concerne ideologicamente com todos os outros partidos, sejam eles de direita, esquerda ou de aluguel. O fato é que todos os partidos querem, acima de quaisquer preceitos ideológicos que defendam, apenas uma coisa: chegar ao poder. E chegar ao poder significa, em suma, controlar os meios pelos quais uma sociedade se desenvolve, sejam eles econômicos ou sociais. Podemos dizer, assim, que os partidos controlam, ou almejam controlar, o nosso presente e, o mais assustador de tudo, o nosso futuro. O Estado, este famigerado organismo em imanente situação pré-falimentar, é, no fim das contas, apenas o meio pelo qual os partidos se utilizam para apascentar nossas vidas.
O problema reside no fato de as pessoas saberem, não de forma tácita, mas conscientemente, das reais intenções dos partidos políticos, e, mesmo assim, os defenderem com unhas e dentes. Podemos ver exemplos disto em bares, esquinas, fóruns de discussão do Orkut, sofás de casas de família e etc. No cerne de tantos debates políticos cotidianos estão, indefectivelmente, PT e PSDB. Agora, eu pergunto: que diferença faz a sigla política que está no Governo no momento, se algo que lhe pertence, ou seja, o seu próprio destino, está nas mãos deles, e não nas de quem sabe, ou deveria saber, o que é melhor para si? Faz mesmo tanta diferença assim ser controlado por um partido de duas ou por um de quatro letras em sua sigla? Não, não faz! A sua liberdade, a minha liberdade, a nossa liberdade, de qualquer maneira não está conosco, e sim com eles, sejam estes de direita, de centro ou de esquerda.
Tirado qualquer romantismo podemos observar que a democracia nada mais é que a evolução dos antigos regimes monárquicos, onde o poder é exercido por uma pequena elite impenetrável para a maioria da população. Veja bem, evolução, principalmente neste caso, não é necessariamente sinônima de inteligência e progresso. Um rei que comanda um governo permeado de corrupção e que cobra impostos altos sem oferecer em troca serviços dignos à população não se diferencia em nada de um presidente que mantém as mesmas práticas, só porque este último chegou ao poder através da vontade de uma maioria e tem a possibilidade de ser substituído, dali a quatro anos, por outro que, muito provavelmente, manterá os mesmos vícios do anterior.
Há milênios as pessoas vêm abdicando de controlar suas próprias vidas e delegando tal tarefa a reis, imperadores, ditadores, presidentes ou primeiros-ministros. Será que não é chegada a hora de assumirmos nós mesmos as rédeas de nossos destinos, rompendo com a inércia coletiva perpetuada desde os primórdios da civilização?